Sempre me restará amar.
Escrever é alguma coisa extremamente forte, mas que pode me trair e me abandona:
posso um dia sentir que já escrevi o que é o meu lote neste mundo
e que eu devo aprender também a parar.
Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.
Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer.
Amar não acaba.
É como se o mundo estivesse à minha espera.
E eu vou ao encontro do que me espera.
Espero em Deus não viver do passado.
Ter sempre o tempo presente e, mesmo ilusório, ter algo no futuro.
O tempo corre, o tempo é curto:
preciso me apressar, mas ao mesmo tempo viver como se esta minha vida fosse eterna.
E depois morrer vai ser
o final de alguma coisa fulgurante:
morrer será um dos atos mais importantes de minha vida.
Eu tenho medo de morrer:
não sei que nebulosas e vias-lácteas me esperam.
Quero morrer dando ênfase à vida e à morte.
Só peço uma coisa:
na hora de morrer eu queria ter uma pessoa amada por mim ao meu lado para me segurar a mão.
Então não terei medo,
e estarei acompanhada quando atravessar a grande passagem."
Clarice Lispector (1920-1977)
Boa Tarde
Low
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