terça-feira, 22 de outubro de 2013

Então não terei medo....


Sempre me restará amar.
 Escrever é alguma coisa extremamente forte, mas que pode me trair e me abandona: 
posso um dia sentir que já escrevi o que é o meu lote neste mundo
 e que eu devo aprender também a parar.
 Em escrever eu não tenho nenhuma garantia. 
Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer.
 Amar não acaba.
 É como se o mundo estivesse à minha espera.
 E eu vou ao encontro do que me espera.
 Espero em Deus não viver do passado. 
Ter sempre o tempo presente e, mesmo ilusório, ter algo no futuro. 
O tempo corre, o tempo é curto: 
preciso me apressar, mas ao mesmo tempo viver como se esta minha vida fosse eterna. 
E depois morrer vai ser 
o final de alguma coisa fulgurante: 
morrer será um dos atos mais importantes de minha vida. 
Eu tenho medo de morrer: 
não sei que nebulosas e vias-lácteas me esperam. 
Quero morrer dando ênfase à vida e à morte. 
Só peço uma coisa: 
na hora de morrer eu queria ter uma pessoa amada por mim ao meu lado para me segurar a mão.
 Então não terei medo, 
e estarei acompanhada quando atravessar a grande passagem."
 Clarice Lispector (1920-1977)

Boa Tarde
Low

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